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Expressões idiomáticas

 Ir para o maneta

 

           Quem é que nunca ouviu a expressão “ir pró maneta”?

         Ela teve origem na má fama de Louis Henri Loison, General de Divisão, Governador do Palácio de St. Cloud e Comandante da Segunda Divisão do Exército, que esteve em Portugal nas três invasões francesas.

         “Ir pró Maneta” significa "dar cabo de alguém ou de alguma coisa; destruir, acabar, não ter recuperação".

      E isto porque o general Loison perdeu um braço por causa de um acidente de caça e, enquanto esteve em Portugal, revelou-se um homem cruel e sem escrúpulos, de extrema ferocidade e malvadez e que exerceu torturas violentas nos presos, sendo responsável por várias mortes.

          Quem é, então, este homem?

          Louis Henri Loison nasce a 16 de maio de 1771 em Damvillers, na região do Rio Mosa, em França, filho dum deputado à Assembleia Constituinte francesa.

         General do exército de Napoleão Bonaparte e reconhecido pela sua bravura, participa, em junho de 1793, na pilhagem da abadia de Orval, na Bélgica. A rapidez da sua ascensão é o prémio de verdadeiros talentos militares e duma coragem que chegava a ser temerária pois não tinha nem apego, nem humanidade, nem elevação de carácter.

          Após a batalha de Austerlitz, é nomeado Grande-Águia da Ordem Nacional da Legião de Honra, pela bravura demonstrada naquela batalha.  

          Entretanto, no início de 1806, perde o braço esquerdo num acidente de caça, o que o impede de liderar a sua Divisão nas campanhas desse ano e do ano seguinte.

      Participa, posteriormente, no cerco de Colberg, na Prússia, ao comando de uma Divisão de reserva, tendo então sido nomeado Governador do novo Reino da Vestfália, que Napoleão criara para Jerónimo, o seu irmão mais novo.

       Em finais de 1807 é nomeado comandante da 2.ª divisão do Corpo de Observação da Gironda, que, sob o comando do general Junot, invade Portugal. Passa a ser o homem de mão de Junot para punir os atos de rebeldia dos portugueses. 

        Isso é especialmente notório a partir de maio de 1808, perante sinais de uma insurreição geral, o que leva Junot a encarregar Loison de expedições punitivas exemplares. Ocupa então diversas povoações portuguesas, de norte a sul, praticando todo o género de crueldades contra as populações, ferindo, açoitando e matando quem lhe surge pela frente. 

       O povo passa a designá-lo por “Luisão” e “Maneta”, ficando então a usar-se na linguagem popular o lugar comum “ir pró maneta”, em analogia com o destino fatal de todos aqueles que ele mata.

      Finda a primeira invasão, Loison é enviado, em 1808, para o corpo do marechal Soult, a quem Napoleão encarregara uma segunda invasão de Portugal, entrando pelo Norte. 

         Bom conhecedor do País, Soult envia-o, por diversas vezes, a fim de pacificar zonas revoltosas ou para cobrir os movimentos do exército francês, continuando porém a praticar as suas atrocidades contra o povo.  

       Fracassada a segunda invasão, regressa a Espanha mas, em 1810, está de novo ao comando de uma divisão, integrado agora no corpo de Ney, com o objetivo de entrar em Portugal, integrando o exército de Massena. 

      Loison combate na batalha do Buçaco e ocupa diversas posições defronte das Linhas de Torres. É então escolhido para comandar o 6.º Corpo, a elite do exército invasor. 

       A curta passagem de Loison pelo concelho do Sabugal não dá azo a mais que os normais e puros atos de guerra, dentre os quais as ações de saque às populações a fim de garantir a subsistência do exército. Loison é um homem cansado da guerra, que transporta a fama terrível de general sanguinário e cruel.

       A este propósito veja-se este apontamento do RTP ensina:

https://ensina.rtp.pt/artigo/ir-pro-maneta-e-outras-historias-das-invasoes-francesas/

       A própria imaginação popular inventou versos à sua volta.

       Vejamos este exemplo:

 

"Entre os títeres generais

entrou um génio altivo

que ou era o Diabo vivo

ou tinha os mesmos sinais...

 

Aos alheios cabedais

lançava-se como seta,

namorava branca ou preta,

toda a idade lhe convinha.

 

Consigo três emes tinha:

Manhoso, Mau e Maneta."

 

       Ou este outro exemplo:

 

"Que generais é que devem

morrer ao som da trombeta?

Os três meninos da ordem:

Jinot, Laborde e Maneta.

 

O Jinot mai-lo Maneta

julgam Portugal já seu:

É do demo que os carregue

e também a quem lho deu.”

 

       Assim, “ir pró maneta" teve o significado original de ir para a tortura ou para a morte. Atualmente, a expressão significar "dar cabo de alguém ou de alguma coisa", "destruir", "estragar-se", "perder-se e não ter recuperação".

         Muitas outras atrocidades e campanhas se seguiram, protagonizadas por Loison.

         Em maio de 1812 é enviado por Napoleão para a campanha da Rússia, onde combate abnegadamente.

Regressado a França em 1814, passa a comandante de uma região militar. A queda de Napoleão faz com que passe, em definitivo, à posição de reformado.

      Já terminado o Império de Napoleão, o rei Luís XVIII nomeia-o Cavaleiro da Ordem de São Luís e, logo a seguir, Comandante da 5.ª divisão.

       Retirado compulsivamente do ativo em 15 de novembro de 1815, morre nas suas terras de Chikel, perto de Liège, no recém-criado Reino dos Países Baixos, a 30 de dezembro de 1816, aos 45 anos, após 20 anos de pilhagens sob a capa de General da revolução e do Império franceses.

       O seu nome encontra-se inscrito no Arco do Triunfo, em Paris, na secção virada para Oeste.

Erro crasso

 

          Ora vamos então perceber hoje o que significa e qual a origem da expressão “erro crasso”.

        O adjetivo crasso (do latim crassu, "grosso"), já utilizado pelo dramaturgo Plauto (falecido em 184 a.C.), significa, em sentido figurado, “grosseiro”; quer dizer ainda “grosso; espesso; cerrado; denso; opaco”.

Este termo, porém, é mais conhecido pelo seu uso nas expressões correntes “erro crasso” (significando “erro grosseiro”) e “ignorância crassa” (significando “suma ignorância”).

         O erro crasso é, portanto, diferente do erro comum a que todos estamos sujeitos. O erro crasso é considerado inadmissível para a posição que a pessoa ocupa ou para o grau de capacidade que evidencia.

         Ora, esta analogia pode ter tido origem na vida e no erro de estratégia de uma pessoa concreta.

         Marcus Licinius Crassus (Marco Licínio Crasso) viveu entre 114 e 53 a.C. e foi um político importante na República Romana, sendo membro do primeiro triunvirato romano ao lado de Pompeu e de Júlio César.

         Filho de Publio Licinio Crassus, teve dois filhos: o general Publio Licinio Crassus, morto com ele em Carras, e o questor Marco Licinio Crassus.

          Crasso possuía uma enorme fortuna e é considerado o mais rico romano da história de Roma.

         Pois este mesmo Crasso decidiu invadir o Império Parta sem o consentimento formal do senado romano. Rejeitando uma oferta de ajuda do rei Artavasdes II da Arménia, resolveu avançar com o seu exército pelo deserto da Mesopotâmia, sem usar o território arménio, para invadir o Reino Parta.

         Para tanto reuniu um exército de 35 mil legionários (equivalente a 7 legiões), 4 mil de infantaria leve e 4 mil cavaleiros, incluindo mil cavaleiros gauleses, e partiu para a guerra. Tudo parecia ir correr bem, mas a arrogância custou-lhe não só a vida, sua e a de seu filho, mas ainda a consideração de inteligente.

         É que Crasso confiou cegamente em Ariamnes, árabe amigo de Pompeu mas aliado dos Partas e levou o seu exército até as partes mais inóspitas do deserto, sem provisões para uma batalha mais longa e sem exércitos aliados.

         Os exércitos adversários encontraram-se próximo à cidade de Carras, na Turquia. O general Cássio aconselhou Crasso a colocar o seu exército na tradicional formação de batalha: infantaria no centro e cavalaria nos flancos. A estratégia foi vista com bons olhos, mas mudou a formação para um quadrado. Essa formação oferecia mais proteção, mas era proporcionalmente mais lenta.

       Vários generais pediram para montar acampamento mas não foram ouvidos. Crasso preferiu seguir os desejos de seu filho Publio, que estava ansioso para lutar. Subestimou o exército inimigo, pensando que seria vitorioso rapidamente só por ser romano.

        Por causa deste grave erro de estratégia militar cometido em 53 a.C., na batalha de Carras, Crasso perde de maneira vergonhosa. Um erro… crasso!

        Está percebido?

         A BE deseja a todos um fantástico fim-de-semana sem erro crasso: neste tempo de pandemia da Covid-19, mantenham a distância de segurança e usem sempre a máscara!

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